os candidatos e suas caras

Relatos de um RD numa reunião do CTA

por Carolina Oms e Lucas Rodrigues de Campos, estudantes
do 2° ano de Jornalismo

A reunião do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) aconteceu na sala da congregação. O diretor Milanesi dividia a mesa com o vice Mauro Wilton. Quase nada de novo na pauta viciada – viagens a serem aprovadas, relatórios, cursos pagos. Dispostos nas cadeiras à frente da mesa, os representantes do CTA acompanhavam as discussões que costumam ser frias; na reunião do dia 12 de novembro a pauta principal, polêmica, se escondia na última linha do pequeno calhamaço: a reforma do organograma, que lida com a disposição de funções administrativas da eca.
Diferente do que normalmente acontece, todos os pontos burocráticos foram comentadas e brevemente discutidas. Isso porque a cada pauta, o conselheiro Victor Aquino se levantava em direção ao microfone – desnecessário, dado que todos os conselheiros discutiam das cadeiras que ocupavam. Aquino, diretor do departamento de Relações Públicas e Propaganda (CRP), retirou da pauta convênios com a ARCO (cursos pagos) por não serem discutidos devidamente, fez comentários sobre o sistema Mercúrio, tudo feito como se ministrasse uma aula. Qualquer brecha era acompanhada de uma fala do diretor do CRP.
Destacada atuação: essa é uma característica forte desse ex-diretor da ECA. “Na gestão do Tupã Gomes”, assim Aquino refere-se aos quatro anos que sua antiga identidade esteve na diretoria da ECA. Uma figura política antagônica. Forte e bravateiro ao criticar possíveis mudanças curriculares propostas pelo findado atual diretor Milanesi, bate na mesa, enfurece-se. Chama o representante discente para uma conversa a sós e confessa ser contra fundações. Tupã Gomes, antigo nome daquele que hoje se chama Aquino, esteve à frente da Fundação de Apoio às Comunicações (Fundac).
Já o vice é receptivo, fala pouco e busca o consenso. Contrário à tradição de seguir os ditames e regras do diretor, discorda e decepciona quem ocupa a cadeira. Sem, no entanto tomar uma posição definida quanto à diretoria ou qualquer outra pauta polêmica. Defende a gestão de Milanesi sem defender e faz uma mea culpa… afinal, dirigir uma escola é difícil…
Há cerca de três meses os que acompanham as reuniões da Congregação já percebem que os dois candidatos reais a diretores são esses dois professores. Sim, porque apesar da lista de candidatos ter oito nomes, até o momento, só esses dois assumiram “campanha” e confirmaram presença no debate promovido pelo centro acadêmico. Um dos candidatos está viajando pelo exterior. Outros possuem outros compromissos ou não responderam o email. Se a dificuldade de obter o número de celular desses professores já é grande, imagina obter suas propostas e trajetórias políticas… Nossas fontes são reuniões e fofocas de departamento.
Se há nesse relato maior foco no candidato Victor Aquino é porque sua gestão foi tão conturbada que conseguiu marcar uma história marcada por esquecimentos, como é a história da luta política na USP. Isso se é que se pode falar em luta política. O que vemos na ECA e na USP, e não é de hoje, é no máximo, disputa de feudos.


retrato de uma eleição palaciana

por Bruno Mandelli, estudante do 6° ano de Jornalismo

Além da ECA, outra unidade da USP teve sua eleição para diretor neste semestre, a FFLCH. Lá e cá, a eleição é formalmente a mesma, e ambas as unidades têm as mesmas normas, previstas no estatuto da USP. Na prática, porém, a FFLCH revelou uma característica positiva ausente na ECA: lá existiu debate público.

Na FFLCH, cuja eleição aconteceu em 18 de setembro, foram organizados cinco debates entre os candidatos, o jornal da unidade deu espaço para que eles expusessem suas propostas e projetos. Além disso, foi organizada uma eleição consultiva (conhecida como “consulta”) – na qual todo professor, funcionário ou estudante pode expressar sua preferência –, usada para “orientar” os eleitores do colégio eleitoral. Não houve qualquer garantia formal de que o colégio eleitoral respeitaria a consulta, e nesse ano isso não se efetivou, mas nos anos anteriores os resultados da consulta e do colégio eleitoral coincidiram. Todas essas medidas são institucionais, ou seja, são organizadas pela própria administração da entidade.

Na ECA, a julgar pelas eleições anteriores, há razões para acreditar que nada disso será feito.  Em 2004, por exemplo, quando o atual diretor foi eleito, o pouco de debate que houve não foi de modo algum uma iniciativa da instituição, e sim do Centro Acadêmico, que também promoveu por conta própria uma eleição na qual todos podiam votar e em que os votos de professores, funcionários, professores e estudantes eram computados de forma paritária, o que definia os votos dos RDs dentro do colégio eleitoral.

A cultura institucional da ECA compreende a eleição de diretor como uma questão privada, de foro íntimo do reduzido número de votantes do colégio eleitoral, e na qual pouco importa a opinião da própria comunidade ecana. Por conseqüência, as eleições para diretor da ECA ocorrem em grande parte nos bastidores, quase que clandestinamente: não se apresentam abertamente as propostas, não se apresentam abertamente as divergências, e mesmo os candidatos tardam em se apresentar publicamente como tais.  A lista foi apresentada publicamente em 19 de novembro, a poucas semanas da eleição. Ainda assim, meses antes da eleição, os candidatos já estão definidos e em plena campanha eleitoral “subterrânea”, em um processo que lembra mais uma conspiração palaciana que o processo de escolha do dirigente de uma instituição de ensino superior.

Ainda que passe longe de ser o ideal, o “modelo” da FFLCH, dentro das limitações do estatuto da USP, tira a eleição do pequeno convescote do colégio eleitoral e expõe o processo ao público, força a apresentação de projetos, força os candidatos a, mesmo que de forma superficial, responder às demandas de estudantes, funcionários e professores. Na ECA, onde não existem esses mecanismos, só haverá de debate de fato se esse for conquistado, se conseguirmos forçá-lo. Caso contrário, teremos um terreno fértil para interesses particulares e jogos de poder entre pequenos grupos de professores, em detrimento do interesse público e da qualidade de ensino.


memória de elefante

O texto abaixo foi escrito para um JECA de 2000, por cerca de seis membros do CALC, como consta nos arquivos de nosso grupo de e-mails.

Deu meleca: boicote à democracia na ECA
Dois alunos da ECA, estão sentados numa mesa da lanchonete da D. Hermínia, bebendo uma cerveja, e conversam sobre a eleição para diretor.
É estranho pensar como conversa de bêbados às vezes faz sentido. Dias atrás dois alunos da ECA conversavam sobre as eleições para diretor numa mesa da D. Hermínia, bebendo as cervejas ainda (graças a Deus e o diabo) permitidas pela diretoria da Escola:
– Cê viu só, o WC foi eleito. Vai ser o nosso diretor a partir de fevereiro.
– Ué, não tinha sido o Borin o eleito?
– Tinha, mas na consulta. No Colégio Eleitoral quem ganhou foi o Waldenyr , e aí o reitor confirmou e até já saiu no Diário Oficial no dia 8.
– Peraí? Que história é essa de Colégio Eleitoral? Eu votei e não valeu nada? Me explica isso direito.
– Deveria valer. É o que sempre aconteceu aqui na ECA, mas pelo jeito os membros do colégio desprezaram a nossa vontade.
– Não tô entendendo. Então, como funciona essa porra de eleição?
– Assim, ó. A consulta nem tá no estatuto da USP. Mas é legal de se fazer porque aí dá pra sabê quem que as pessoas tão querendo que seja o novo diretor da ECA. Os funcionários, os alunos, os professores, todo mundo pode votá.
– Neste ano o Borin ganhou, não foi? Então por que deu Waldenyr?
– Porque aí aconteceu, depois da consulta a eleição oficial. Nesta só vota o Colégio Eleitoral, que tem só 98 pessoas: 11 alunos, 2 funcionários, 1 ex-aluno e o resto de professores. Dessa eleição sai uma lista com 3 nomes indicados pro cargo de diretor, aí o reitor pode escolhe qualqué um deles. Como o Waldenyr foi o primeiro nome desta lista do colégio com maioria absoluta, o reitor o escolheu.
– Que bosta! Que lama! Que várzea! Que azeite! Que colégio eleitoral mais marmota!
– Deu 50 a 43 pro Waldenyr no colégio. Foi por pouco. Na consulta deu 59% a 33% pro Borin. Votaram 731 estudantes, 113 professores e 201 funcionários .
– É, eles nem respeitam nada. Não representam merda nenhuma.
– A vontade do umbigo deles.
– O segundo nome, então, era o Borin?
– Era. Mas isso porque os alunos invadiram o prédio na quarta, no dia da eleição, e mostraram o que queriam. Talvez se não fosse isso não dava nem Borin como segundo nome. Teve professor que saiu com peso na consciência.
– Invadiram? Mas o prédio não tava aberto?
– Cê não sabia? Faz tempo que você não vem aqui. O Tupã mandou fechar. Disse que precisava organizar a eleição e baixou uma portaria fechando o prédio desde o dia anterior.
– E isso pode?
– Não, não pode. Foi ilegal. Teve professor que reclamou e tal.
– E se eu tivesse que fazer trabalho…
– Ia se foder, até a biblioteca tava fechada.
– A biblioteca? O cara tá louco? Baixou um Pinochet no cara?
– Ele também nem quis chamar a consulta. Foram alguns professores, funcionários e alunos que bancaram.
– Mas quando ele foi eleito teve. Eu lembro, ele era até candidato único.
– Eu acho que nessa eleição tava valendo era qualquer parada, viu, tinha a guarda universitária, os seguranças da Asthor e chegou até um PM pra gente não entrar no prédio. Como se a gente fosse mó perigoso!
– A gente é tudo terrorista, né?
– É, estuda aqui todo dia, senta a bundinha na sala e os nossos professores acham que a gente é perigoso, baderneiro.
– E pior é pensar que a saga vai continuar…
– Vai nada.
– E não?
– Se depender da gente…meu, a gente vai tentar chamar o máximo de pessoas e fazer de tudo prá que seja feita a nossa vontade.
– Amém.
– Chama uma breja aí.
– Você fez o trabalho?
– Nem. Já falei. A biblioteca tava fechada.
– Puta professor picareta também, né?
– É! O cara é muito picareta.
– Tem vários por aqui. Aliás, ficam falando de democracia, tal, tudo falação.
– É, na eleição a gente viu qual que é a deles.
OBS: a história é fictícia, mas os dados colocados sobre a eleição são muito, e muito reais. Infelizmente.


O CALC convida: Atividades para a eleição para diretor da ECA

Caledário de atividades

25/11 (3ª feira)

Debate com os candidatos a diretor no auditório Lupe Cotrim, às 18h

26/11 (4ª feira)

Assembléia dos estudantes sobre a eleição no auditório Lupe Cotrim, às 18h27

28/11 (6ª feira)

Consulta aberta à comunidade ecana

Compareça e participe!

No dia 12 de dezembro, último dia letivo de 2008, a ECA decidirá seus rumos nos próximos quatro anos. Teremos eleições para diretor e vice-diretor da nossa Unidade. As eleições acontecem de forma indireta a cada quatro anos, tempo suficiente para que quase todos os estudantes já tenham se formado ou não lembrem o que aconteceu na última votação. Portanto, não se pode deixar de pensar que futuro é esse, de quem ele depende e nas mãos de quem ele pode ficar.

Democracia para quem?

Atualmente, quem decide os rumos da ECA é o Colégio Eleitoral, formado por cerca de 100 pessoas de um universo de mais de 3000. Há apenas um funcionário, 10 estudantes de graduação e um de pós, sendo o restante professores.

Assim, a eleição para diretor ocorre como a para reitor – restrita a poucas pessoas, que concentram o poder. A designação do próximo(a) diretor(a) continua subordinada à reitora que, por meio da lista tríplice (três nomes) encaminhada pelo Colégio Eleitoral da ECA, escolhe de acordo com seu interesse.

É importante salientar que apenas os professores titulares, o nível máximo de titulação de um professor universitário, podem se candidatar ao cargo de diretor, o que exclui os professores livre-docentes, doutores e mestres.

E eu com isso?

Você tem tudo a ver com isso. O diretor é o responsável pelo direcionamento da verba da faculdade, o que influencia diretamente na qualidade de seu curso.

Você já viu uma maquete na entrada do CCA?

Nem todos sabem, mas é um projeto de reforma da ECA no qual planeja-se gastar R$ 30 milhões. Ele não prevê um espaço para estudantes (vivência). A decisão de levar o projeto à frente, entre outros projetos depende do futuro(a) diretor(a). Cargo que, ainda, não é escolhido por todos que dependem dele.

Debate

No dia 25/11 faremos um debate com todos os professores titulares que podem ser eleitos para o cargo de diretor, conforme a lista a seguir.

– Elza Maria Ajzenberg
– Ivan Santo Barbosa
– Martin Grossmann
– Mauro Wilton de Sousa
– Victor Aquino Gomes Correa
– Waldenyr Caldas
– Waldomiro de Castro Santos Vergueiro
– Maria Dora Genis Mourão (apenas ao cargo de vice-diretor)

Assembléia

Apesar do pouco peso, os estudantes ainda têm uma representação mínima no Colégio Eleitoral através dos RD’s. Dessa forma no dia 26 desse mês nos reuniremos no Auditório Lupe Cotrim (prédio central) em uma Assembléia para decidirmos em conjunto a posição que adotaremos na eleição, assim como de que forma serão distribuídos os 10 votos que representam os estudantes.

Consulta

CALC vai realizar também uma consulta aberta à comunidade. Nela, alunos, funcionários e professores poderão expressar sua vontade nas urnas que estarão espalhadas pela nossa escola. Embora esta consulta não tenha poder de fato, ela é importante como manifestação da vontade da comunidade e também como forma de pressão frente ao Colégio Eleitoral.


Em caso de dúvidas, fale com o CALC pelo e-mail lupecotrim@gmail.com